Por: Tamiris Gomes
O solo abriga uma complexa rede biológica, na qual milhões de microrganismos interagem entre si e também com as raízes das plantas. Além disso, dentro dessa rede, os microrganismos benéficos desempenham um papel crucial, pois contribuem para a supressão natural de patógenos. Desse modo, ajudam a manter o equilíbrio do agroecossistema e, consequentemente, fortalecem a saúde das lavouras.
Mais do que aliados invisíveis, eles são agentes ativos no controle biológico, pois competem diretamente com organismos causadores de doenças e, ao mesmo tempo, estimulam as defesas naturais das plantas. Assim, neste artigo, você vai entender como essa supressão ocorre, além de conhecer quais são os principais grupos envolvidos e, por fim, descobrir como estimular essa proteção natural no campo.
O que é a supressão natural de patógenos?
Supressão natural ocorre quando o solo possui alta diversidade e atividade microbiana capaz de inibir ou controlar o crescimento de patógenos, como fungos, bactérias ou nematoides. Esse efeito pode ser:
- Geral: quando há competição natural por espaço e nutrientes entre microrganismos benéficos e patogênicos;
- Específica: quando certos microrganismos produzem substâncias antimicrobianas ou parasitam diretamente os patógenos.
Essa barreira biológica invisível reduz significativamente o risco de surtos de doenças e, mesmo quando as condições são favoráveis ao desenvolvimento dos agentes patogênicos, ela continua atuando de forma eficaz. Assim, garante maior estabilidade ao sistema produtivo e consequentemente mais segurança para as lavouras.
Mecanismos de ação dos microrganismos benéficos
Os microrganismos do solo utilizam múltiplos mecanismos para suprimir patógenos. Entre os mais importantes, destacam-se:
1. Competição por espaço e nutrientes
Microrganismos como Bacillus e Pseudomonas colonizam rapidamente a rizosfera, ocupando os nichos ecológicos e impedindo que patógenos se estabeleçam.
2. Produção de substâncias antimicrobianas
Algumas espécies produzem antibióticos naturais, sideróforos e enzimas líticas e, dessa forma, conseguem inibir ou até destruir patógenos como Fusarium, Rhizoctonia e Sclerotinia. Além disso, esse conjunto de estratégias aumenta a eficiência do controle biológico e contribui, portanto, para a manutenção da saúde do solo.
3. Parasitismo direto
Fungos como Trichoderma spp. e Pochonia chlamydosporia atacam diretamente os esporos, hifas ou ovos de organismos patogênicos, neutralizando sua capacidade de infectar a planta.
4. Indução de resistência sistêmica
Certos microrganismos ativam os mecanismos de defesa das plantas e, com isso, elas se tornam mais resistentes a futuras infecções. Além disso, esse processo, conhecido como resistência sistêmica induzida (RSI), funciona como uma memória biológica que fortalece a resposta das plantas frente a novos ataques.
Principais microrganismos supressores
- Trichoderma spp.: fungo antagonista com ação direta e indutora de resistência em diversas culturas;
- Bacillus subtilis e B. amyloliquefaciens: bactérias com forte capacidade antibiótica e colonizadoras da rizosfera;
- Pseudomonas fluorescens: atua na produção de sideróforos e antibióticos naturais;
- Streptomyces spp.: produz compostos antifúngicos e contribui para a estabilidade microbiana do solo.
Como estimular a supressão biológica no campo?
Para que a supressão natural ocorra de forma eficiente, o solo precisa ter condições adequadas para sustentar uma microbiota ativa e diversificada. Algumas práticas recomendadas incluem:
- Evitar o uso excessivo de agroquímicos não seletivos;
- Aplicar compostos orgânicos e bioinsumos microbiológicos;
- Manter cobertura vegetal contínua e diversidade de culturas;
- Fazer a rotação de culturas com espécies não hospedeiras de patógenos;
- Utilizar inoculantes com cepas específicas e comprovadas para a cultura-alvo.
Essas estratégias promovem um ambiente competitivo e biologicamente equilibrado e, com isso, dificultam o avanço de agentes patogênicos. Além disso, esse equilíbrio fortalece a microbiota benéfica do solo e, consequentemente, aumenta a resiliência das plantas frente a diferentes desafios.
Conclusão
A supressão natural de patógenos pelo microbioma do solo é uma estratégia poderosa e sustentável de proteção das lavouras. Ao favorecer microrganismos benéficos por meio de boas práticas agrícolas e bioinsumos, o produtor reduz a dependência de defensivos químicos e fortalece a resiliência do sistema produtivo.
Promover a vida no solo é, portanto, um passo inteligente rumo a uma agricultura mais saudável, produtiva e regenerativa.
Siga nosso Instagram e acompanhe nossos conteúdos!
Leia também sobre: Bioinsumos: funcionamento e impacto no agro